Tuesday, November 9, 2010

Ornitorquestra



Tirei esta fotografia há mais de dez anos, algures no Ribatejo, durante um passeio a pé com o meu pai. A foto foi tirada de longe com uma máquina descartável. Foi um instante afortunado porque as notas voaram poucos segundos depois de ter tirado a primeira e única fotografia.
Como a máquina não tinha zoom, usei mais tarde o zoom do photoshop.

Desde então, cada vez que pego nesta fotografia, penso que devia fazer alguma coisa com ela. Decidi que esta manhã havia de pôr o óbvio em prática. Escolhi a clave de sol, armei-me em harmonitornitólogo e o resultado ao piano foi isto:


Mas enquanto experimentava isso ao piano, a ideia ganhou outras asas. Vendo bem, nesta imagem cada nota é um ser vivo. E isto abre a possibilidade de se ver cada nota de uma partitura como um instrumento autónomo, dinâmico e até imprevisível dentro de certos parâmetros.

Ora, imaginem que pertencem a um grupo instrumental ou a um coro, e vos é atribuído com total exclusividade o nome de uma nota, por exemplo um Fá; e que podem tocá-lo ou cantá-lo como quiserem de cada vez que a partitura pede um Fá. Deve dar um jogo engraçado.

Como hoje de manhã não tinha nenhum coro de seres vivos aqui à mão, diverti-me a fazer o que pude, uma reinterpretação da composição fotográfica, desta vez com uns sons de pássaros que tinha aqui à mão, retirados daqueles cds com colectâneas de sons de animais, e o resultado foi este Opus 1 para Ornitorquestra:


Se é possível profissionalizar pombos-correio, não deve ser assim tão difícil recrutar e dar formação a um bando de pássaros com um bocadinho mais de talento musical que um pombo.

A propósito, também durante a manhã descobri que recentemente um compositor brasileiro chamado Jarbas Agnelli, ao ver num jornal uma fotografia parecida com esta, teve a ideia de tocar a música que lá se podia ler e de fazer um vídeo a explicar o processo. O vídeo tornou-se fenómeno do youtube de um dia para o outro, comoveu jornalistas pelo mundo inteiro e a difusão da ideia foi enxurrada até às últimas consequências (ou seja, o tipo acabou no TED dar uma conferência sobre isto!).

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